Gosto muito quando meu médico de sempre, Walter Caixeta Braga, aparece em minha casa sem ser convocado, só porque está sem notícias minhas. Tenho também o doutor Giovanni Seixas, que vem sem ser chamado uma vez por mês. Ele faz parte da Amil, empresa que toma conta de meus problemas de saúde – do hospital aos médicos.

Seixas, que trabalha no programa Hospital Residência, olha tudo com o maior cuidado. Me dá vários papéis para , comprovantes de sua visita. É muito cuidadoso, principalmente depois que cheguei aos 90 anos. Não resolve nada sem perguntar muito, a consulta demora mais do que a do consultório.

Ele esteve em minha casa esta semana e a única coisa que mudou foi a quantidade de remédio que tomo para depressão. Já recomendou procurar um psiquiatra, mas eu não quis. Conheço muita gente que deixa o médico que trata de tudo e vai parar no psiquiatra – o resultado não é muito legal, acho.

 

Na realidade, depressão é o resultado de uma vida que não está sendo levada como deveria. No meu caso, como sempre fiz 1.001 coisas, sinto-me com pouca serventia ao ter as ocupações reduzidas.

O meu médico mensal já pertenceu ao quadro de diversos – e respeitados – hospitais de Belo Horizonte. Não quis continuar porque nesses hospitais grandes e particulares, quando a direção muda, tudo muda. E é difícil ter de se reorganizar a cada mudança. Imagino como deve ser, pois médicos que conheço am pelo mesmo problema.

Meu pai era médico. Quando morreu, eu tinha pouco mais de 3 anos. Não testemunhei a qualidade de seu atendimento, que devia ser incontável, pois naquele tempo doutores atendiam de unha do pé a tumor no cérebro e câncer no pâncreas.

Meu pai era do tempo do médico generalista, que cuidava de tudo. Não tenho lembrança dele, mas de sua memória ficaram muitos casos. Formado no Rio e clinicando em Santa Luzia, atendia no consultório e em casa. Percorria o interior de carro ou a cavalo, qualquer que fosse a necessidade do paciente. Como sofria de um problema cardíaco, atualmente corrigido apenas com o alargamento de uma vértebra, morreu por causa dessa deficiência. Não havia tratamento naquela época.

Gosto tanto do tema e leio tanto sobre saúde que, vez por outra, penso em por que não estudei medicina. Curiosamente, meu pai não deixou a filhos e netos sua profissão. Mas no restante da família, netos e bisnetos estudaram medicina, trabalham em hospitais e costumam atender parentes naquelas visitas dominicais que são a tradição da família mineira.

Alguns profissionais, aliás, recusam-se a ser “médicos dominicais”. Quem se queixa de sentir isso ou aquilo recebe deles uma única resposta: “Consulte seu médico”. No que fazem muito bem, porque algumas pessoas sentem 1.001 sinais de doença quando o médico chega para curtir momentos de convivência e confraternização, querendo distância de assuntos de doença.

A única vez em que recebi um conselho familiar dessa natureza foi quando me apareceu um câncer e o “parente doutor” recomendou procurar o meu médico habitual. O resultado foi batata – e não tive só um câncer, mas dois. Graças a Deus, estou aqui firmona.

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